terça-feira, 20 de maio de 2008

Sem comentários

[Texto publicado no blog Textificando. Espaço do grande amigo e irmão Paulo Borges, consagrado na Comunidade de Vida Novo Ardor].

Acredito que esta tenha sido, durante algum tempo, minha resposta de toda hora, mesmo que às vezes silenciosa. Às vezes, por ignorância, outras por covardia, outras ainda para me dar a oportunidade de ouvir.
Calar pode ser uma virtude, mas pode também se tornar um grande inimigo. Digo isto por experiência própria. A palavra sugere participação, supõe uma certa preocupação com os fatos e circunstâncias de cada dia. É a reação. Porém, o comentário, protagonista destas minhas palavras de hoje, exige percepção, crítica, pensamento. Comentar não é re-descrever, reproduzir, repetir, mas analisar, repensar a realidade. No entanto, comentários não são sempre bem vindos a todos os ouvidos, e às vezes nem mesmo a quem os pronunciou.
Silenciando dou-me a oportunidade de ouvir. É preparação. Diria que esse silêncio é a melhor reação, por que respostas rápidas demais tendem ao erro. Respostas que demoram costumam ensinar mais, a quem responde e a quem é respondido.
Quero fixar a atenção nestes últimos, já que escrevendo aqui torno-me alvo de comentários. O silêncio dos ouvintes (ou leitores, se preferirem) é, por vezes, uma voz estridente que grita que todo o discurso é vão, já que ninguém o escuta. É a primeira tentação de quem fala e escreve, mas aí se apresenta a oportunidade de ser livre no que se faz, especialmente quando se fala de Deus. Não há obrigatoriedade de que seja o semeador quem realizará a colheita. Tudo é vaidade, e esperar o reconhecimento dos homens o é por excelência. O silêncio é a morada do orgulho que não quer correr o risco de ser julgado e condenado pelas palavras que seriam ditas. Por outro lado, quem fala é atacado pela vaidade, que o faz desejar o reconhecimento de quem o escuta. Dois inimigos que não podem ser vencidos pela fuga, mas apenas pela humildade, guarda e guia de quem verdadeiramente ama a Deus sobre todas as coisas.

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Que a Virgem do Silêncio nos ensine a guardar todas as coisas no coração.

Shalom!

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