sexta-feira, 27 de junho de 2008

Alguma dúvida?

Já comecei a escrever aqui umas 7 vezes ou mais. Planejei alguma coisa bem bonita, cheia de ornamentos, pensei, calculei e medi. Nunca dava certo! Pensava: "Dessa vez as letras não podem confundir os leitores!" =)
Em alguns textos que escrevi aqui, recebi e-mails confusos [rs].
"O que você quis dizer?"... "O que significa isso, aquilo?"
Entendendo ou não, existem coisas e pessoas que, por serem tão especiais, cheias de especificidades e virtudes, singularidades e curiosidades, não se esgotam em respostas, em letras, em palavras, em explicações e justificativas.
Quem tenta teorizar o que é inefável se machuca... Deus é inefável e, o que traz a essência dEle também carrega o mistério das reticências. As relações, o amor, a humanidade, as reações, são assim... Algumas coisas, diante de perguntas, têm resposta, têm explicação; outras, simplesmente são e pronto! Quem aqui é capaz de conceituar a Providência de Deus!? No máximo, é possível letrar que é o meio que Deus escolheu para nos aproximar mais de Sua vontade.
Deus é estratégico! Vê tudo, vê todos!

Sabe quando a gente toma um refrigerante e tem a sensação que acabou, mas na verdade, é o canudo não está chegando no fundo para sugar o que resta?
É assim a experiência que tenho tido com a misericórdia de Deus. Quando penso que não há mais refrigerante [leia-se: coragem e força], o canudo chega um pouco mais fundo e o refrigerante surge. E eu... seguro as pontas. Fico aí mais um tempo, não estou sozinha. Partilho de um novo, de uma alegria, partilho de uma certeza, partilho de letras mudas e leituras concretas.

Um parêntesis!
Achei muito interessante quando busquei o significado da palavra partilha e encontrei, dentre outros, que tal palavra significa: porção que toca a cada um.

Portanto, acreditando que o que eu vivo está dentro da esfera providencial dos projetos divinos, eu arrisco, eu brigo, eu aposto. Desistir? Não... Vamos até o fim, certo?
Deus, como disse, é estratégico e justo, oras! No momento certinho, manda fogo do céu, intervém e faz o que tem que ser feito, faz o que eu não consigo, diz o que não tenho competência de dizer, convence acerca das respostas e certezas. Desarma e, em nome da partilha, faz a Obra dEle não só em mim, mas também ao redor da minha cidade, do meu coração. Eu luto contra mim mesma, contra o relógio, contra o despertador, luto contra os assaltos e busco o abrigo nAquele que me prometeu uma vida verdadeira aqui e uma vida plena quando o que aqui estiver completado.
Nada melhor do que abandonar os minutos que vêm, os meses que já passaram, os anos que restam...

Por quê?
Porque é de Deus e eu acolho, eu aprendo a cada dia, eu quero, eu desejo, eu partilho da construção. Porque é resposta e tantas outras coisas... Por quê? Porque é desafiante e forte, é profundo. É provado e comprovado. Por quê? Ah... Sei não. [rs]

Vamos arriscar! O máximo que pode acontecer é uma queda aqui e outra acolá, mas "tudo que se sofre por amor, por amor é curado" - Teresa de Jesus.

Coragem, meu povo!

Alguma dúvida de que Deus está no comando?

Shalom!

"Deus me faz desejar aquilo que Ele sempre quis me dar" - Sta. Teresinha do Menino Jesus

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Fala do velho do restelo ao astronauta

José Saramago

Aqui, na Terra, a fome continua
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
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In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição
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segunda-feira, 16 de junho de 2008

Invasões

"Por ser exato o amor não cabe em si
Por ser encantado o amor revela-se
Por ser amor, invade e fim..."¹
Meu pai e minha mãe em alguma praça láaaa no interior do Maranhão. Há mais de 20 anos...
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¹ Djavan - Pétala

domingo, 15 de junho de 2008

Precisão

de Clarice Lispector

O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Juninas

Só quero um xodó - Dominguinhos

Junho... O mês que a gente dança mais! rs

Arraiá da Paz - 28/7 a partir das 19h, na Paróquia São Judas Tadeu - 908 sul.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Oportunidade

No último fim de semana tivemos um curso na Comunidade que me fez mergulhar mais no que Deus espera da minha vida. Deus me fez para amar e para ser livre! Olha que lindo!
Essa coisa de liberdade interior me levou a matutar nos meus relacionamentos, nas minhas reações diante da postura alheia, nas permissões, nos meus sinais...
Graças a Deus, eu ando me percebendo muito [especialmente nos últimos dias] diante dos sequestros que eu provoco e dos cativeiros que me enfio.

Liberdade interior...

Um belo desafio, uma busca, uma ladeira, uma luta. Ao mesmo tempo, para mim, tem sido experiência de abandono. Estou aprendendo que quando Deus quer algo para mim, Ele mesmo se encarrega das oportunidades. Tem gente que nem imagina que está sendo oportunidade de libertação para a minha vida. Os chatinhos e as chatinhas da vida [rs]! De pensar que eu também sou uma chatinha na vida de muita gente. Tomara que os que têm essa imagem de mim encontrem nisso uma oportunidade de céu.

Uma vez uma pessoa partilhou comigo que estava cansada de fingir, de usar máscaras, de sustentar uma imagem bonitinha, angelical e bem vista diante dos outros. Isso aí cansa mesmo. Não estou dizendo que é saudável sair por aí com a carteirinha da "sinceridade" no peito dizendo e fazendo que bem entende. Ser o que sou, não o que eu acho que eu sou. Isso só se descobre em Deus.

Por mais que eu me esforce para ser livre no Espírito, ser livre com meus irmãos e conservar a vivência das virtudes, sempre vai ter algum cantinho aqui que eu vou querer maquiar, deixar mais bonito, mas isso é trabalho para a divina providência. :-)

Não existe segurança maior do que a verdade. Por mais que as eventuais mentiras da superficialidade e a insistência nossa em preservar o respeito humano, cuidar excessivamente de si, da auto-imagem, pareçam um posto mais conveniente e imaculado, a verdade é sempre a verdade.
Hoje, uma amiga (Luana - bunita) me mandou um vídeo de uma partilha do Pe Fábio de Melo em que ele dizia:


"O amor perfeito não existe, a pessoa ideal não existe. Ela não tem a
obrigação de ser aquilo que a gente queria que ela fosse. Quando a pessoa se
decepciona com a gente ela nos dá a oportuniadade de sermos livres. A coisa mais
triste é a gente ficar amarrado naquilo que o outro imaginou da gente."¹


Como isso é uma verdade! A Emmir² sempre diz que uma das primeiras graças que devemos pedir a Deus é a graça da desilusão. Que venham as decepções. Elas nos arrancam do faz-de-conta, das imagens construídas de acordo com o que eu acho que eu preciso. Decepcionar-se com o outro é oportunidade de céu! No meu caso, o primeiro instante é de ira [rs], mas depois logo vejo que sou capaz de fazer muito pior e que todo mundo tem direito de errar. Claro que isso não acontece sempre, nem sempre eu consigo fazer das decepções, benditas oportunidades.

Amarrar-se ao que o outro pensou quando eu disse isso, aquilo, quando agi assim ou assado! ÊEEta prisão! Nisso, Deus também tem colocado gente muito santa perto de mim. Nos erros mais errados, nas explosões típicas de Narlla em alto grau de cansaço, nas respostas rápidas, nas olheiras, no sono, na impaciência, indecisão e questionamentos, nas cafubiras. Só o amor nos torna santos, por isso digo que Deus colocou gente santa perto de mim. Não digo santidade para conotar impecabilidade. Mas para dizer que quem muito ama, muito perdoa, acolhe e respeita. Santidade é amar muito!

Deus ama tudo em mim! Ama o que eu sou e o que ainda não sou. Ama assim porque sabe o que Ele me criou para ser. Sabe do que eu sou capaz e também o que não cabe a mim, sabe das minhas potências, sabe até quem as fecundará. Deus sabe de mim mais do que qualquer um. Sabe onde eu alcanço, sabe que minha mão tem 15cm, meu pé, 20,5cm. Sabe o que cabe no meu coração, quantas lágrimas eu já derramei nessa vida, sabe de tudinho! Deus vê tudo e sabe o que me pedir, porque conhece o que sou capaz de dar.



"...onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade."
II Coríntios 3,17


Ziza Fernandes - Tu me conheces bem

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[1] - Encontrar a pessoa certa (Pe Fábio de Melo)
[2] - Emmir Nogueira - Co-fundadora da Comunidade Católica Shalom

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Não se esqueça de viver

Quis postar este texto aqui porque marcou muito a minha vida quando li pela primeira vez. Sempre que noto que eu ou alguns dos meus estão se esquecendo de viver, lembro logo deste texto.

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Não se esqueça de viver
Dijanira Silva

O trabalho é importante e necessário, mas não tem o direito de nos escravizar

Alguma vez na vida você já se esqueceu de viver? Eu já!

Gosto muito do clássico "Pollyana" de Eleanor Porter, que narra a história de uma menina, filha de um missionário pobre, que após ficar órfã, vai morar em outra cidade com sua tia Polly Harrigton, uma madame que possuía muitos bens materiais e grande influência em todos os setores da sociedade, mas era infeliz, e na concepção de Pollyana, não sabia viver.
Segundo a garota, viver era ter um tempo só seu no qual pudesse fazer coisas de que gostava sem se preocupar com regras, horários e leis; e a tia Polly tinha regras, horários e leis para tudo. O certo é que com a chegada da menina, de uma hora para outra, tudo começa a mudar em Beldingsville, uma típica cidadezinha dos Estados Unidos.
A tia Polly, aos poucos, torna-se uma pessoa melhor, mais amável, e o mesmo acontece com praticamente todos os que conhecem aquela garota e seu incrível "Jogo do Contente". É que Pollyanna não aceita desculpas para a infelicidade e empenha-se de corpo e alma em ensinar às pessoas o caminho para superar a tristeza e valorizar a vida.
Em muitos aspectos concordo com ela, aliás, este livro é um dos que mais marcaram minha vida até hoje. Assim como aquela garota, acredito que viver é ser responsável sim, mas também ser livre para se ser quem é, sem precisar prestar contas ao mundo da roupa que se veste e de cada passo que se dá...
É ter tempo para estar com as pessoas que amamos, ouvir o canto dos pássaros, contemplar as flores, correr no parque, fazer castelos na areia e rir de si mesmo quando sentir vontade. Dias atrás, levei um susto ao perceber que não estava "vivendo".
Envolvida em um exigente projeto dentro da missão evangelizadora que assumo, estava dedicando-lhe mais tempo do que deveria. Dormia e acordava pensando nas melhores chances de conquistar as metas do dia seguinte, e quase sem perceber, minha vida estava girando em torno de tal projeto. Era tudo com boa intenção, já que a meta era evangelizar, mas certamente estava indo por atalhos e não pelo caminho certo.
Até que ao voltar para casa num fim de tarde, observei no jardim, do prédio onde moro, várias florzinhas – daquelas que soltam suas sementes e voam pelo ar quando as sopramos.
Lembrei-me rapidamente do quanto gosto dessas flores e me admirei de não as ter enxergado antes, sendo que passava no mesmo lugar no mínimo duas vezes ao dia!
Parei um pouco, sentei-me ali mesmo, e fui soprando as flores, do jeito que eu fazia quando era criança e continuo repetindo o ato até hoje. Parece que quando vejo as sementinhas suspensas no ar, sendo levadas para o alto pelo vento, sinto-me mais livre, mais leve, mais perto de Deus; e a agitação e os problemas do dia-a-dia, por um instante, voam com elas.
É uma sensação muito boa. Experimente fazer isso e vai perceber que a criança, que você era, ainda está dentro de você e alegra-se com coisas assim, bem simples. Naquele fim de tarde, sentada no muro do canteiro, fui percebendo que havia dias que tinha me esquecido de fazer as coisas simples e descomplicadas, as quais me causam tanto bem.
Tinha permitido que o trabalho definisse minha rotina e roubasse-me a leveza da vida .
Tudo foi passageiro e superado com sucesso, graças a Deus, mas não pretendo repetir a experiência! Sei que não estou imune do ativismo porque me vejo continuamente diante de grandes desafios no exercício da missão assumida, mas continuo buscando o equilíbrio entre o fazer e o ser. Sei que o mais importante diante de Deus não é o que faço, mas quem realmente sou para Ele . Não é o caso de arranjar desculpas, mas a realidade de nosso tempo, considerado a "Era do Desenvolvimento", põe-nos diante do grande perigo que é passar pela vida sem sentir o prazer de viver. Contemplamos uma sociedade "controlada" pela sede do saber, ter e poder, porém, mesmo "sabendo" e "tendo" tanto, não pode viver com liberdade usufruindo do que possui. É preciso empenho para não se deixar levar por essa correnteza, e aí entram a fé e a fidelidade aos nossos princípios de vida para nos sustentar.
Precisamos pontualizar aonde queremos chegar de fato, e seguir em frente sem perder a inspiração inicial. O trabalho é importante e necessário, mas não tem o direito de nos escravizar, a não ser que lhe dermos esta chance. Hoje se a vida está cheia de compromissos e lhe falta tempo para fazer as coisas de que você mais gosta, tenha a coragem de parar – nem que seja um pouco –, e priorizar o que realmente é mais importante para você.

Acredito que terá ótimas surpresas, como eu as tenho tido. Lembre-se: a vida é o que temos de mais precioso! Não se esqueça de viver!
Estamos juntos!

Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com
Missionária da Comunidade Canção Nova, em Fátima, Portugal Trabalha na Rádio CN FM 103.7