sábado, 24 de julho de 2010

Repetir

Começo indicando que neste texto não fiz questão de procurar sinônimos para evitar a repetição
das palavras.
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Hoje, pensando nas tantas vezes em que é preciso repetir uma palavra ou mesmo que alguém repita uma informação para mim, me pus a refletir no valor de uma repetição. A verdade é que esse pensamento mora em minha cachola há algum tempo. Tempo suficiente para repetir uma reflexão ou outra sobre tal ato, louvável e admirável: A decisão por repetir.

Quem não tem paciência de repetir, perde tempo. Se cansa... A vida pede repetições, os relacionamentos exigem recomeços, o “mais uma vez” e “mais essa” e “uma vez mais”. Vamos repetir o perdão. Não como coisa igual, sem novidade, sem a marca do amor. Quem repete com amor torna tudo novo. São setenta vezes sete, sete vezes o sete, setenta e sete vezes um milhão... É uma vida inteira, seja ela de um dia ou 100 anos. São infinitas repetições que constroem uma vida no amor, na verdade, para a eternidade.

Sim, fazer novamente a mesma coisa por alguém é oportunidade de amor, um ato de amor. Vejam os pais e mães quando precisam repetir infinitas vezes uma instrução às crianças pequenas, que estão aprendendo. O que seriam das famílias se não fosse a decisão em amar, em proporcionar o que só eles, os pais, poderiam dar aos seus filhos?

Existem coisas que os meus pais repetem com o mesmo amor há 24 anos para mim. Sejam palavras de afeto, conselhos ou broncas. O amor, além de impulsionar uma nova e livre decisão todos os dias, faz com que tudo seja novo! Faz aprender, faz ensaiar, purificar, olhar nos olhos. Repetir faz parte do ato de tornar puro, reconciliar, religar.

O que seria dos amigos se não estivessem dispostos a repetir gestos de atenção, de amor, de doação? O que seria dos casais se não estivessem dispostos a ensinar um ao outro como se aperta o tubo da pasta de dente ou a repetir infinitas vezes atos corajosos de amor e perdão? O que seria de nossos relacionamentos se na primeira oportunidade de repetir nos vemos cansados para um ato como este e desistimos do outro?

O que seria de nós se Deus não estivesse pronto e disposto a repetir a mesma coisa quando nossa memória, fragilizada pelo pecado, nos traísse? O que seria de mim se Ele não estivesse disposto a caminhar mesmo que eu insista em deixá-Lo?

Repetir com amor nunca é vazio, sem sentido. Repetir com amor é ver nascer a felicidade, a intimidade, é construir um cantinho “nosso” no outro e com o outro, é como colocar - a quatro mãos - os tijolos de uma casa edificada na Rocha. Quatro, seis, oito, dez mãos... Deus sabe de quantas mãos eu preciso para, na dinâmica das repetições cheias de vida, construir minha morada.

Eu digo e repito... Vale a pena recomeçar, repetir.